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Mudanças climáticas, queimadas e doenças respiratórias

mudanças climáticas e nossa saúde

Por Maristone Gomes

Os incêndios na Amazônia e no Pantanal são, infelizmente, apenas as notícias ruins mais recentes em uma série de fatos estarrecedores sobre o estado do meio ambiente atualmente. Nosso planeta está sofrendo com as mudanças climáticas, com as ações dos seres humanos, e com a falta de medidas suficientes para combater a devastação de biomassas, a poluição do ar e da água, e o sofrimento dos animais. Diante dos acontecimentos, acho importante falar sobre a relação entre aquecimento global, queimadas e as doenças respiratórias uma das áreas que mais direcionar esforços no desenvolvimento de tecnologia hoje com a Salvus. Já estamos começando a sentir as consequências de tudo isso nos nossos pulmões.

As transformações no mundo

A Sibéria, uma região conhecida por ser uma das mais frias do mundo, está registrando temperaturas acima da média em 2020. O Serviço de Mudança Climática Copernicus, da União Europeia, declarou o mês de maio como o mais quente por lá desde 1979, com termômetros marcando cerca de 10 ºC a mais que o esperado. 

No outro lado do globo, na Antártida, cientistas brasileiros registraram a temperatura mais alta da história da Ilha Seymour, a 1.100 km da Argentina. Em fevereiro deste ano, o calor chegou a 20,75ºC. 

Por aqui, o clima também parece estar maluco. Durante o inverno, em agosto, o sul do país registrou muito frio. A queda na temperatura fui tão brusca que gerou receios nas autoridades locais. “O frio, que pode se tornar um dos mais fortes da história recente segundo alguns meteorologistas, aumenta as preocupações com a possível alta da incidência de doenças respiratórias. Médicos recomendam que crianças e idosos se protejam, especialmente no contexto da pandemia da covid-19”, informou na época o Jornal Nexo.

Agora, temos o cenário oposto. O Instituto Nacional de Meteorologia informa que, no fim de setembro e início de outubro, as regiões Sul e Sudeste vão enfrentar dias com até 38 graus no termômetro. No centro-oeste deve ser pior. O Mato Grosso do Sul pode registrar temperaturas de 45 graus. 

Crise climática

A razão para tudo isso são as mudanças climáticas. O projeto de políticas públicas do Jornal Nexo define assim esse fenômeno:

“Alterações no clima são resultado do aumento na concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, que é causado por emissões de atividades humanas como a indústria, transportes e produção agropecuária”

Claro que o clima no planeta sempre esteve em constante variação e algumas delas foram bastante significativas. A diferença agora é que, pela primeira vez, essas transformações estão sendo causadas pela atividade humana e podem ser irreversíveis. O problema está se revelando tão grave que alguns ativistas se referem à situação não como “mudança climática” mas como “crise climática”.

As doenças respiratórias 

Talvez, no dia a dia, você não pare para pensar sobre o derretimento das calotas polares ou sobre a ocorrência de tufões, enchentes ou secas em outros pontos do mundo. Infelizmente, as consequências da ação negativa das pessoas no meio ambiente não está distante de nós. Eu lido com elas todos os dias. Por muito anos, a principal causa de doenças respiratórias foi o tabagismo. Hoje, o culpado número um é o ar poluído que respiramos. 

Na mistura de elementos que causam a poluição do ar, um se destaca: o dióxido de carbono. As atividades industriais e agropecuárias, além da queima de combustível fóssil, são os principais emissores de CO2. O desmatamento e as queimadas são os vilões dos “sumidouros de carbono”, as áreas verdes que absorvem CO2. 

Um artigo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) resume muito bem o problema: “A poluição do ar representa atualmente o maior risco ambiental para saúde”, diz o texto. A publicação explica que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), sete milhões de pessoas morrem todos os anos devido a problemas respiratórios causados por poluentes. Elas sucumbem a doenças como asma e câncer de pulmão. 

A UFMG explica que as substâncias poluentes causam processos inflamatórios nas vias aéreas. A inflamação, por sua vez, reduz a capacidade de movimentação dos cílios que temos no revestimento do trato respiratório. Os cílios são nosso mecanismo de defesa natural contra contaminações. Com a poluição excessiva, eles podem ser reduzidos ou danificados. O resultado são problemas de respiração. Segundo o Ministério da Saúde, 6,4 milhões de brasileiros têm asma. Outras doenças que podem ser causadas ou agravadas pelo ar poluído são a rinite alérgica, a sinusite, e a bronquite. 

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como as doenças respiratórias impactam a economia dos países. Segundo as estimativas da OCDE, na China, o custo da poluição do ar para o sistema de atendimento médico foi de cerca de 1,4 trilhão de dólares, em 2010. Na Índia, esse número foi de meio trilhão de dólares. No ano passado, a Universidade de Stanford divulgou um estudo mostrando que, nos Estados Unidos, o ar poluído custa ao país cerca de 5% do produto interno bruto (PIB) anual. Isso quer dizer 790 bilhões de dólares por ano, principalmente relacionado aos gastos diretos e indiretos com tratamentos de saúde e mortes prematuras.

Queimadas

Uma das consequências das mudanças climáticas são os incêndios em áreas de florestas, como os que estão acontecendo nesse momento aqui no Brasil e na costa oeste dos Estados Unidos. 

Não é só, claro. O Greenpeace considera que tragédia ambiental que nosso país vive hoje foi causada por “uma mistura explosiva de secas severas e absoluto descaso proposital do poder público com a proteção do meio ambiente”. Os resultados dessa combinação já são graves. Segundo a ONG, “no Pantanal, o fogo já atingiu, até o final de agosto, mais de 12 % do bioma. No Cerrado, já foram registrados mais de 38 mil focos de calor até hoje e, na Amazônia, os números de queimadas e incêndios florestais registrados já superaram setembro inteiro de 2019, um crescimento de 86% na comparação com o mesmo período do ano passado”.

O prejuízo ambiental é óbvio e os malefícios para a nossa saúde também podem ser projetados para um futuro próximo. O Greenpeace alerta para um círculo vicioso, “quanto mais queima, mais seco fica o clima local fazendo com que a vegetação queime mais. Ao queimar a vegetação, são liberados gases do efeito estufa na atmosfera, potencializando as mudanças climáticas, que por sua vez causam aumento de temperatura e clima mais seco em diversas regiões do mundo”.

Nós somos parte do planeta

Às vezes até esquecemos, mas nós somos também parte do meio ambiente. Somos animais e dependemos da natureza para viver e progredir. Com o agravamento da crise climática e as queimadas no Brasil, devemos estar cada vez mais atentos à vida natural ao nosso redor. Falar da sustentabilidade de florestas, reservas de água limpas, e do ar respirável não é mais só função de profissionais da área. É algo que faz parte da vida de todos nós. Hoje, mais do que nunca, para cuidar da nossa saúde, precisamos cuidarmos do planeta inteiro.

Fontes:

Universidade Federal de Minas Gerais

Greenpeace

ECycle

OCDE

Universidade de Stanford

Nexo