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Impactos da pandemia no desenvolvimento da Salvus

Imagino que seus planos para 2020 foram totalmente alterados. Os meus, da minha família, colegas e amigos também. Estamos todos tentando nos reinventar… pessoas e negócios. Na Salvus começamos 2020 com muita confiança. 2019 foi um ano desafiador mas muito positivo, realizamos nosso primeiro round de investimento, ganhamos prêmios, tivemos nosso projeto aprovado pelo Plano Nacional de Internet das Coisas e apoiado pelo BNDES.  Um pouco atrasados, mas com o sentimento de dever cumprido. No final de janeiro conseguimos implementar a metodologia OKR e alinhar o planejamento do primeiro semestre, liberando toda nossa energia para execução, mas ao término de fevereiro, já sabíamos que todo o plano deveria ser revisado.

Nos primeiros momentos da pandemia, quando o isolamento social  ainda não tinha sido adotado no Brasil, fizemos a transição para o trabalho  ser realizado 100% de forma remota, com certa tranquilidade, pois já estávamos acostumados com o expediente flexível. Nesses meses, quando a disseminação foi mais forte, conseguimos manter a produtividade, superar inúmeros desafios, e até desenvolver uma ferramenta para ajudar profissionais de saúde, nosso principal público. Não estou aqui para dizer que tudo isso foi fácil e saiu como esperado. Estou aqui para contar sobre os erros e acertos, dificuldades que encontramos, principalmente no ambiente externo, o que realizamos nesse período, e o que estamos pensando para os próximos passos.

Preparação e virada para ” 100% working from home”

Na semana que surgiram os primeiros casos confirmados no Brasil, começamos a acompanhar todas as medidas governamentais e melhores práticas de grandes empresas no mundo.  Construímos nosso plano de ação para combate e contenção dos efeitos da Covid-19 com o estabelecimento de medidas de segurança, um plano de acompanhamento e virada para home office.

Na Salvus já tínhamos a possibilidade de trabalho a distância dois dias por semana. Já era algo cultural e estrutural, utilizamos metodologia de desenvolvimento híbrida, com eventos, artefatos bem definidos e 100% de ferramentas colaborativas online. Assim sendo, não tivemos grandes problemas em levar todo time para trabalhar em casa antes mesmo da medida ser obrigatória, mas tínhamos muitas dúvidas sobre sua manutenção por longos períodos de tempo. Alguns questionamentos foram inevitáveis: como iria ficar a saúde mental e física das pessoas? Como conseguiríamos realizar os experimentos em eletrônica, mecânica e UX? Como realizar a manutenção da cultura da empresa?

A mudança para a equipe de hardware foi um pouco mais difícil. Alguns profissionais tiveram que levar equipamentos, e praticamente montamos um pequeno laboratório em suas casas. Para manter a velocidade de prototipagem, criamos uma logística, para que as peças em desenvolvimento fossem levadas de uma casa para outra, integrando todo um ciclo produtivo. As atividades na empresa se restringiram a experimentos que precisavam ter mais de uma pessoa, enquanto o restante do time, assistia remotamente, quando necessário. Com isso, mesmo no time de hardware, conseguimos manter 95% do tempo do trabalho remotamente.

Problemas logísticos no suprimento de componentes

Infelizmente, toda indústria eletrônica do mundo, é dependente em alto grau  da China. Inclusive, isto ficou bem evidente, à indústria Americana. O combate ao coronavírus, e depois, os esforços para produção adicional de equipamento médico para abastecer todos os demais países em crise, produziram uma disritmia na produção, e consequente, desabastecimento de componentes. 

Tínhamos a meta de realizar a produção de um lote do ATAS O2 no primeiro semestre deste ano mas, simplesmentes não conseguimos encontrar todos os componentes, assim sendo, a produção sofreu um atraso de 90 dias, e ainda hoje enfrentamos atraso nas entregas. Devido a isso, tivemos que realocar os esforços do time de hardware, modificar o planejamento e realizar uma grande adequação na estratégia. Foi preciso muita capacidade de adaptação de todo time para enfrentar o desafio.

Esforços extras durante a pandemia

Nossa missão é conectar a saúde para melhorar a vida das pessoas. Foi  um reflexo desse propósito, no período inicial de isolamento, que nos levou a decidir usar nossa expertise para ajudar quem estava na “frente de batalha” contra o coronavírus.

Em um grande esforço adicional de todo o time, em apenas 30 dias, conseguimos desenvolver e lançar a solução “A Salvus”, um aplicativo com checklist de saúde e segurança para prevenção da Covid-19. O app foi disponibilizado gratuitamente, para profissionais de saúde de algumas empresas parceiras. Na ferramenta, os colaboradores respondem a algumas perguntas sobre sintomas e comportamentos. O “self assessment”, auxilia os profissionais a manterem os protocolos de combate ao vírus evitando esquecimentos e aumentando a fixação dos protocolos. Assim, os especialistas de saúde podem focar no que é mais importante: o paciente.

Hoje, a solução está orientada ao mapeamento e controle de protocolos para o processo de retomada. Manteremos disponível pelo tempo que nossos clientes e parceiros precisarem conectando seu escopo dentro de nossa estratégia.

Crescimento a distância

Durante a pandemia, saímos de 16 para 26 profissionais. Todo o processo de seleção, contratação e onboarding teve que ocorrer 100% remotamente. Atualmente, além de Recife, temos pessoas em mais 02 estados, e, por mais que tivéssemos um mindset mais digital do que as empresas tradicionais, não tínhamos certeza ou confiança em realizar esse processo 100% digital, contudo, aprendemos e executamos rapidamente.

Antes da quarentena também não conseguimos realizar nosso processo de implantação 100% on-line, por uma “necessidade” dos clientes e até chegamos a pensar que sofreríamos o  cancelamento das implantações que estavam para serem iniciadas, mas devido a grande necessidade emergente, o comportamento do mercado mudou.

O que não funciona remotamente

Um ponto bem crítico desse processo de distanciamento social é o impacto no emocional das pessoas! Para se ter uma ideia, o Google registrou um recorde de busca por temas relacionados à saúde mental, em junho. Um aumento de 70% das buscas em relação a fevereiro deste ano, antes da pandemia. Acredito que você conheça alguém que está passando ou já tenha passado por um momento difícil durante esse período, então para tentarmos ajudar, estamos disponibilizando palestras mensais sobre sobre saúde emocional, a necessidade de cuidados preventivos, e o benefício de acesso a psicólogos para toda a nossa equipe.

Mesmo com processos bem definidos, falta muito para uma tecnologia substituir a comunicação pessoal. Trabalhar “sozinho” é complexo… tendo impacto diferente em cada pessoa, inclusive pelos diferentes ambientes e contextos que vivem. Nada se compara com aqueles insights que acontecem quando estamos conversando na pausa para o café. Happy hour virtual não é legal como o presencial! Fizemos aniversariantes do mês através de uma mega logística para fazer acontecer, pausas para o café, happy hour na sexta… em que todo o time se esforça ao máximo para manter a conexão e participar, mas falta muito para o nível tecnológico evoluir e conseguir proporcionar uma boa experiência nestes momentos.

Fatores externos

É evidente o grande impacto que a pandemia causou em nosso momento histórico… Enquanto escrevo esse texto, vamos ultrapassar 119 mil vidas perdidas,o que  torna o Brasil, o segundo país com mais mortes por milhão de pessoas. Quase todos nós temos um nome, uma vida que foi levada… Então fica o questionamento: poderíamos ter feito algo diferente durante esse processo?

As movimentações econômicas e sociais nesse período foram profundas, e possivelmente,  irão reverberar por muitos anos e se tornar insígnias dessa geração. Se por um lado tivemos a aceleração da transformação digital, e para a maioria esmagadora das empresas de tecnologia esse fato gerou crescimento, por outro, muito modelos de negócios tradicionais estão em colapso. Um grande contingente de pessoas está perdendo seus postos de trabalho e não há uma reversão  desse contingente para  o setor de tecnologia, que não consegue preencher com facilidade as vagas que possui. O futuro do trabalho precisa ser debatido hoje. Programas educacionais de requalificação profissional são uma grande necessidade.

Estágio das Soluções

Dentro do nosso projeto, apoiado pela Embrapii e BNDES Piloto IoT,  estão caracterizados alguns desafios, com destaque para: escalar a produção dos devices, diminuir o lead time e custo da solução. Para superá-los, até o final do ano estaremos desenvolvendo a cadeia de fornecedores, ferramentas para produção em massa e passando pelo processo de homologação na Anvisa, Inmetro e Anatel. O Atas O2 também está passando por pesquisas para validação clínica, com diversos pesquisadores, respeitando os rituais científicos.

A Plataforma Salvus Home Care é uma solução que tem a missão de ajudar profissionais e empresas a controlar de maneira inteligente e em tempo real, todo processo e protocolos da atenção domiciliar, desde a avaliação inicial do paciente, passando por todo ciclo de evolução e gestão da operação até a alta médica. Esta solução integra aplicativos e sistema web, iremos transformá-la em uma grande plataforma IoMT. Hoje mais 5 mil profissionais de saúde a estão utilizando para gerenciar 1970 leitos. Estamos com grandes evoluções acontecendo, recebendo feedbacks muito positivos dos clientes.

Próximos Passos

Para conseguir alcançar todos os planos este ano, precisamos aumentar a equipe. Em breve iremos abrir vagas em todos setores. Mas há um ponto bem delicado, que é a escassez de profissionais no setor de desenvolvimento. Para solucionar esse problema, realizamos um teste, em que  no espaço de 11 meses conseguimos selecionar, treinar e levar 02 estagiários ao nível de desenvolvedores jr e contratá-los. Estamos ampliando esse projeto, queremos ajudar mais 10 estudantes em sua jornada de qualificação e entrada no mercado.

Estamos nos preparativos para a inauguração da nossa nova sede, que terá uma fábrica de dispositivos médicos, certificada em boas práticas de fabricação pela Anvisa. O espaço também contará com um laboratório maker equipado com todos os equipamentos necessários para acelerar a transformação de ideias, projetos em artefatos físicos para conectar cada vez mais coisas a internet.

Apenas o time de hardware, pela necessidade objetiva, está voltando para o ritmo de atividades presenciais de antes da pandemia. Nosso plano de retorno dos outros setores será gradual e ainda não está finalizado. Como antes, teremos dias alternados, entre home office e presencial. Nem todas as função da empresa possuem aderência ao anywhere office, dentros dos limites de cada uma, continuaremos com nossa cultura flexível e orientada a resultados.

O Brasil possui  grandes desafios no setor de saúde. Poucos hospitais com tecnologia de ponta e muitos ainda sem capacidade de utilizar um simples prontuário eletrônico. Estamos comprometidos em gerar impactos positivos para toda cadeia de saúde e com todos os resultados, ajudar profissionais e instituição a diminuir essas diferenças. Para que possamos avançar e evoluir de forma debate da saúde 4.0 e futuro do sistema, precisamos resolver o presente.

Texto original em: Maristone Gomes