São diversas as desigualdades existentes na sociedade brasileira. Uma das mais evidentes refere-se às relações de gênero. Nas últimas décadas do século XX, um dos fatos mais marcantes na sociedade brasileira foi a inserção da mulher no campo do trabalho, a qual vem continuamente aumentando. Para entender melhor sobre a atuação feminina no mercado de inovação, entrevistamos a publicitária Clara Arruda, a qual está totalmente integrada neste universo.
Clara Arruda é a Coordenadora de Marketing em Economia Criativa do Porto Digital. Mestra em Marketing pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e publicitária por formação na UFPE, Clara possui uma longa experiência no mercado de varejo, de pesquisa, de Gestão de Projetos e eventos além de outras especialidades. Mentora de Negócios de Impacto Social e Economia Criativa, ela já esteve envolvida em Maratona de Negócios Sociais produzido pelo Living Lab do Sebrae/MS.
Em 2018, representou o Porto Digital no Lançamento do Relatório Mundial 2018 – Repensar as políticas culturais: criatividade para o desenvolvimento, uma realização da UNESCO em parceria com o Ministério da Cultura (MinC) e com o Itaú Cultural.
Confira a seguir a entrevista:
Clara, é um prazer poder entrevistar você para debatermos este assunto. Para começar, como você começou a trabalhar na sua área?
Olá gente, eu que agradeço o convite de vocês! Sou formada em publicidade e vim trabalhar no Porto Digital após finalizar meu mestrado em Marketing em Portugal. Conhecia algumas pessoas da gestão do parque, fui chamada para uma entrevista e em janeiro de 2016 comecei a trabalhar especificamente com prospecção e fomento dos equipamentos de EC do Porto. Hoje, com uma reestruturação do nosso modelo administrativo, tenho atuado diretamente na área de Desenvolvimento de Negócios e Inovação.
Você já sentiu algum desafio específico na sua carreira por ser mulher?
A gente sempre sente, de certa forma. No início da minha carreira, trabalhando com publicidade em agência de comunicação, tive a sorte e a honra de começar a trabalhar em uma agência liderada por uma mulher, o que ajudou bastante e também sempre me serviu de inspiração. Na área de inovação e tecnologia, a grande maioria dos profissionais é masculina, e em algumas situações ainda sentimos dificuldades para sermos ouvidas.
O Porto Digital tem contribuído bastante para a área da Tecnologia da Informação e da Comunicação em Pernambuco. De que forma essas conquistas têm beneficiado público feminino?
A grande missão do Porto Digital é fomentar o mercado de TIC, e esse fomento engloba também a promoção da equidade de gênero, através do nosso programa MINAs – Mulheres em Inovação, Negócios e Artes. O MINAs é responsável pela realização de ações diversas com o objetivo de fortalecer a presença feminina nos mercados de TIC e EC, sensibilizando o ecossistema e apoiando o empreendedorismo feminino.
Para você, qual a importância de colocar a mulher como protagonista em ambientes de empreendedorismo?
Apoiar o empreendedorismo feminino faz com que a gente consiga romper algumas barreiras sociais impostas por uma sociedade extremamente machista, onde a imagem de poder e domínio foi ainda é muitas vezes atrelada à uma figura masculina. É preciso fortalecer lideranças femininas por uma transformação social, onde tenhamos uma sociedade cada vez mais inclusiva e justa.
O que ainda precisa ser melhorado para que o ambiente de negócios tenha uma maior igualdade de gênero?
Ainda tem muito a ser feito. Apesar dos avanços adquiridos pelas mulheres no mundo dos negócios, vivemos numa sociedade onde ainda encontramos consequências históricas em que o homem deve garantir o sustento da família enquanto a mulher deve cuidar do lar e dos filhos, colocando em prova a capacidade de gestão dessas, principalmente num mercado majoritariamente masculino.
Como a Economia Criativa pode e tem ajudado as mulheres?
Economia Criativa são áreas que usam a criatividade como negócios, unem inovação e o capital intelectual para impulsionar a geração de renda e empregos. Ao longo dos anos, as barreiras e desafios sociais que as mulheres têm enfrentado nos apresenta a capacidade dessa mulher de criar, inovar, transformar e crescer. e essa capacidade está diretamente ligada ao mercado de Economia Criativa, que se destaca como um dos mais crescentes e rentáveis nos dias de hoje.
O que você aconselharia para mulheres que pretendem trabalhar no mercado de inovação e economia criativa?
Que continuem lutando e enfrentando de cabeça erguida as barreiras e desafios ainda existentes neste mercado de tecnologia, o qual tem apenas 1/5 de presença feminina. Precisamos promover a equidade de gênero, nos apoiar e nos fortalecer, e ocupar cada vez mais esses espaços que merecemos por nossa força e capacidade de trabalho e de entrega.
O que você considera fundamental para as empresas que querem contribuir para um mercado com oportunidades iguais?
É preciso antes de mais nada reverter a cultura do preconceito através de ações, programas e atividades que promovam a equidade de identidade de gênero e também racial. É preciso valorizar o colaborador por suas competências profissionais, e não apenas pelo gênero ou outras questões que são consideradas na hora de definir o cargo e salário do profissional.